Chegamos a França e o nosso quarto país visitado nessa turnê, na cidade de Grenoble. A cidade que fica no sul da França tem uma história de resistência ao nazismo no país e uma cena muito interessante, principalmente no campo queer, feminista e antifascista. Além, claro, de ocupações e centros sociais.
Nosso oitavo evento (09/04) foi no centro social e infoshop Le Local, espaço que existe desde 2005. Há nessa sala uma distro com discos, zines e livros. Além de uma biblioteca contando com um ótimo e organizado acervo de zines. Lá são organizadas apresentações, grupos de estudo, reuniões, exibições de festas, shows, funcionando com um bar e distribuindo comida vegana. Servindo de abrigo de vários projetos da comunidade que circunda o espaço. Atualmente o Le Local tem aberto 2 vezes na semana para manter em atividade da biblioteca aberta, afora os eventos geralmente no final de semana. Às quintas-feiras há um grupo que presta suporte aqueles que necessitam de ajuda jurídica. Há também um grupo que reúne periodicamente com o fim de dar assistência tecnológica, disseminar softwares e ferramentas tecnológicas livres das grandes corporações, com enfoque principalmente na comunidade queer. A forma organizativa do espaço são as reuniões presenciais mensais com os sujeitos e coletivos que compõe o espaço.
Em nossa apresentação da Kasa e do livro “Casa Encantada” novamente ficou em evidência as questões que tangem a vida comunitária e as relações de vizinhança da Kasa. Ficamos conhecendo também a realidade de Grenoble, onde o aumento progressivo de aluguel, acabou fechando espaços, assim como a diminuição de ocupações na cidade, acabou por fazendo gerando mais responsabilidades para os espaços, mas assim como mais solidariedade. O próprio Le Local, foi um dos espaços para onde diversos sujeitos convergiram depois do fim da BAF (Biblioteca Autônoma Feminista), local importante para as lutas da cidade.
Depois da nossa fala fomos convidados a conhecer o histórico espaço 102, mais uma das ocupações impressionantes que temos sido apresentados nessa viagem. O 102 está em uma antiga fábrica de papel, com mais de 100 anos de construção e foi ocupada em 1982. No térreo funciona um espaço para shows que se converte em uma sala de cinema (podendo contar com projeções de filmes em película, inclusive). No subsolo, há um porão com um estúdio de ensaio. No primeiro andar há a biblioteca, um espaço de impressão em risografia e o escritório da CNT francesa, com todo seu material gráfico, bandeiras e informativos. Há também no térreo, um refeitório, uma cozinha com forno de pizza. Há também uma cozinha mais privativa para as bandas que se alojam no espaço e uma parte privativa de moradia nos andares superiores, além de um pequeno e aconchegante jardim.
A história do espaço é muito interessante. Houve momentos onde ele conseguiu estar legalizado e outros que voltaram a ser uma ocupação inclusive correndo o risco de desalojo demonstrando que é necessário não confiar no Estado e continuar mobilizados e mobilizando. Atualmente o espaço está legalizado, conta com reuniões mensais dos 7 coletivos que compõe sua organização mais a CNT. O fato do sindicato ter um espaço no 102 é também muito interessante já que demonstra um bem-sucedido encontro entre a subcultura punk e a luta anarcossindicalista. Segundo o companheiro que nos apresentou o espaço, muito da reforma do espaço foi feito pelos trabalhadores filiados à CNT que frequentam o espaço. Muitas vezes os sindicalistas também vão curtir um show punk!
Queremos agradecer ao Le Local, por receber a atividade, Nilo, Luana, Camila e Hernani. Ao Davi por nos apresentar o 102 e especialmente Igu e Luana por nos abrigar e nos dar todo o suporte em Grenoble!