No décimo evento da turnê (13/04) em Paris realizamos nossa atividade na ocupação La Trotteuse, ela está situada nos limites da cidade.
Porém, já chegamos em Paris em meio a um protesto contra o fascismo, o racismo e as Olimpíadas. Organizado por imigrantes e sindicatos que conjuntamente com apoiadores caminharam até a Casa dos Metalúrgicos. Lá havia sido a sede do sindicato e hoje é um centro cultural do Estado, foi ocupado recentemente com a proposta de ser um centro de apoio aos sem papel e refugiados. A ocupação é constituída por jovens imigrantes e refugiados, em sua maioria menores de idade, exigindo alojamento digno aos que estão em risco social. Os antigos lugares de abrigo da cidade estão sendo usados agora pela polícia e preparação para as Olimpíadas. Interessante notar a semelhança da questão dos impactos dos mega-eventos como foi a Copa da FIFA no Brasil, há diversos protestos convocados em Paris para o evento.
Ocupando a um ano e meio, o La Trotteuse tomou uma antiga fábrica de relógio que estava abandonada cerca de 5 anos. Fruto de uma massa falida onde o Estado assumiu, todos os prédios do entorno a ocupação acabaram sendo vendidos, sobrando apenas esse espaço abandonado e onde hoje é a Trotteuse. Quando os ocupantes chegaram lá ainda haviam máquinas que foram deixadas para trás.
Na ocupação todo espaço do térreo está destinada a atividades. Há um espaço para arrumar e construir bikes que abre toda semana; uma cozinha coletiva, onde vários coletivos e associações também a utilizam para eventos, solidariedade e distribuição de comida; há uma cozinha coletiva totalmente vegana; uma sala de reunião, na qual muitos coletivos anticapitalista usam; lavanderia; salão de beleza (havia um cabeleireiro que usava o espaço como um local de renda mas também de valorização); uma loja grátis, espaço para cinema e publicações; espaço para ferramentas; um enorme espaço para guardar, receber e passar doações para outras okupas, onde também consertam e recebem materiais de outras okupas ameaçadas de despejo; há também um espaço para festas e shows e material para cerveja.
Sobre álcool na ocupação, nos pareceu que há uma questão muito importante, dada não apenas ao número de moradores muçulmanos, mas também as pessoas em recuperação e ao impacto do abuso. No Trotteuse não é proibindo beber, mas eles tentam reduzir os usos ostensivos e abusivos no espaço através de pequenos acordos coletivos.
No segundo andar moram cerca de 40 pessoas. A notícia extremamente infeliz é que há uma ordem de despejo para setembro de 2024 e que dificilmente será revertida. Somos informados que está cada vez mais difícil ocupar, principalmente depois da lei aprovada no ano passado. Se a lei anterior proibia o desalojo imediato depois de 48 horas ocupando, isso foi alterado recentemente. Agora é possível fazer o despejo imediato de qualquer ocupação em até 8 dias depois do seu início. O deputado que criou a lei agora está no Ministério de Moradia de Paris.
A Trotteuse se organiza através de reuniões mensais entre os moradores, onde se discute os modos comuns de vida e atividades. Perguntamos se essas reuniões eram abertas e se talvez a vizinhança e apoiadores poderiam participar, eles nos respondem que estão voltados mais para eles mesmos agora. Também nos contaram que que o apoio para atividades que utilizavam o espaço (como o movimento “Verdade e Justiça”, que busca dar apoio aos feridos pela polícia e também aos movimentos de solidariedade da Palestina) acabaram por deixar a ocupação vulnerável, tais reuniões continuam porém com mais cultura de segurança.
Nossa atividade sobre o livro “Casa Encantada” foi muito rica e com muitas perguntas, várias delas referente aos contextos específicos de ocupação no país e principalmente sobre o apoio da vizinhança, algo que para a auto-defesa da Kasa Invisível é essencial.
Agradecemos ao Le Trotteuse pela recepção e troca, T. pela organização do evento, a Lívia pela tradução e apoio, e especialmente ao Phil por nos receber e organizar toda nossa estadia na cidade.