O ufanismo municipal belo-horizontino vem ganhando destaque junto dos mesmos grupos formadores de opinião e da cultura que aplaudem os bares da moda que tentam “ocupar o centro” e privatizar o espaço público, aumentando o aluguel e policiando os pobres que insistem em existir. Não esperamos muito do pálido e institucionalizado progressismo (às vezes chamado de esquerda), mas ver gente mais preocupada com qual símbolo será usado para representar o projeto colonizador, policial, burocrático, ecocida e genocida local, do que em se aliar com movimentos sociais de base contra a direita que vai governar a cidade ano que vem é, no mínimo, sintomático.
Não importa que símbolo estará timbrado nos documentos que autorizam a expansão da mineração, que despejam pobres de suas casas, nas leis que acobertam os crimes da máfia do transporte público e do lixo; ou que estampa as viaturas e uniformes das forças de segurança municipais – cada vez mais militarizadas – que vão fazer o trabalho sujo de aplicar a lei dos ricos, assim como sempre foi feito desde que esse território, uma vez indígena e diverso, foi fundado sobre o suor e o sangue dos povos e vilarejos que foram expulsos e apagados.
Só nos interessa as bandeiras de luta com as quais é possível seguir construindo apoio mútuo entre ocupações, territórios, assentamentos, kilombos e as matas. As mesmas bandeiras que, em dias de Câmara ocupada em julho de 2013, tomaram o lugar daquelas do poder municipal, estatal e federal. Mostrando que quando tomamos palácios, seus símbolos têm o mesmo destino: o fogo e o lixo.
Não adianta soltar a mão dos de baixo, para apertar as dos de cima a cada dois anos. Mesmo que a chamada esquerda quisesse apenas uma vitória nas urnas, seria melhor ter se unido e construído isso com base social. Agora é tarde: pagam o preço pela sua desunião e passam vergonha pedindo voto útil no mesmo ex-milico da ditadura e empresário, que cortou arvores pela cidade, expulsa as pessoas em situação de rua, paga um salário de merda aos professores, proibiu a utilização de banheiros por pessoas trans, tirou dinheiro dos projetos de habitação perdoando dividas dos empresários, que aumentou o preço das passagens de ônibus e protegeu seus compadrios que lucram com um dos sistemas de transporte mais caros e precários do país.
Aos vencedores do pleito pela nova bandeira: mais burocracia e repressão.
Aos movimentos de luta: seguimos em frente!